15 de outubro – dia do professor. O que Comemorar?

15 de outubro – dia do professor. O que Comemorar?

Mais um ano se passa, dos vinte e nove que já se foram de carreira profissional. Novamente chega o dia 15 de outubro, onde está escrito no calendário civil – Dia do professor. Quanta diferença na celebração. Outrora motivo de orgulho, agora decepção, medo, angústia, frustração. Em Minas Gerais estamos-nos “recompondo” de uma greve de longos 112 dias em busca simplesmente de valorização profissional, amparados por uma legislação federal que diz pague-se o piso nacional. Ao invés de comemoração, palavras de carinho, incentivos, motivação,
onde os alunos na maioria das escolas faziam teatro para homenagear seus mestres, muitas vezes imitando os “cacuetes” que cada professor tem na sua prática cotidiana, vícios de linguagem, gestos ou expressões marcantes, momentos engraçados regados a um bom lanche especial, cartões, flores. Lembro-me do filme “ao mestre com carinho”.

Mas os tempos são outros. Ao invés de homenagens, eis a questão vinda da direção: Quem virá trabalhar amanhã? Precisamos organizar o quadro para que o aluno não fique sem a lição. Que motivos tenho para fazer reposição neste dia se o que eu mais queria era uma aula de cidadania. Qual o meu papel numa sociedade que joga todos os seus problemas para dentro da escola, como um depósito de seres humanos. As famílias que por direito deveriam tutelar seus filhos, ensinar-lhes o respeito, os valores e atitudes, se omite. Quantas expressões se ouvem nas reuniões de pais do tipo: “não dou conta desse menino” “o que posso fazer?” “Ele não me respeita”. Ora senhores, se o rapaz não respeita a mãe que o pariu e o amamentou, vai respeitar o professor?

Por outro lado o governo que por dever do Estado deveria prover uma educação pública de qualidade, pois chancela nossos impostos, mas não trata a educação com respeito e dignidade. Para ele (governo) o interessante é apenas números, índices, fórmulas mirabolantes e programas equivocados preparados por burocratas que demonstram nas suas aparições midiáticas o completo desconhecimento da rotina escolar. Cada dia mais cresce as tais avaliações externas. É prova disso e daquilo. Apenas um treinamento, como se nossos alunos tivessem a necessidade de “adestramento” num tratamento padronizado, mecanicista e produção em série semelhante a uma fábrica.

Quando terei direito de compreender a necessidade dos meus alunos? Uma aula nunca é igual à outra, mesmo que eu dê a mesma aula nas turmas da mesma série. As reações vão ser
diferentes, os interesses vão ser diferentes, pois todos os alunos traz um histórico que produzirá questionamentos diferenciados.

Os tempos mudaram... De repente abro meu e-mail Box e vejo um cartão virtual enviado pelo o sindicato que nos representa onde além das felicitações pela passagem do dia do professor
há a seguinte frase do mestre Paulo Freire: "A Educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda. Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo." (Paulo Freire)

De impeto a imaginação voa. Sou motivado a pensar sobre a trajetória educional nas ultimas tres décadas que estou em sala de aula. Na universidade se pensava na educação como uma “panaceia” uma alavanca de transformação da sociedade. Era o Brasil do “ame-o ou deixe-o”. Algo imprescidível, para um país emergente com uma população semi-analfabeta onde ter um curso superior mudava de classe social. Fazia sucesso a dupla Dom e Ravel que cantava:

Eu venho de campos, subúrbios e vilas,
Sonhando e cantando, chorando nas filas,
Seguindo a corrente sem participar,
Me falta a semente do ler e contar
Eu sou brasileiro anseio um lugar,
Suplico que parem, prá ouvir meu cantar

Você também é responsável,
Então me ensine a escrever,
Eu tenho a minha mão domável,
Eu sinto a sede do saber

Eu venho de campos, tão ricos tão lindos,
Cantando e chamando, são todos bem vindos
A nação merece maior dimensão,
Marchemos prá luta, de lápis na mão
Eu sou brasileiro, anseio um lugar,
Suplico que parem, prá ouvir meu cantar

Ser professor era ser respeitado como profissional da educação, hoje até o nome da profissão está descaracterizado. De “mestres” e “professores” passou para “educadores” (há muitas controvérsias), “trabalhadores da educação” (leia-se “operários” não se esqueça de como falei
antes escola=linha de produção de uma fábrica), “intrutores”, “monitores”, etc. Isto pra não dizer jocosamente no conceito vigente para alguns somos “babás”, “cuidadores”, “tomadores de conta”
menos “Professores” como P maiúsculo mesmo. Dá aula, ensinar qualquer um pode fazer, quer seja licenciado ou não, basta fazer uma inscrição no “orgão competente” (de quê?) e se propor a receber o que o governador quiser pagar.

Realmente, tenho que concordar com Paulo Freire, a educação é uma ferramenta necessária, mas ninguém educa ninguém. A comprovação está no meio político e burocrático governamental atual. Eles se esqueceram da Escola com E maiúsculo, dos seus professores, parece até que eles nunca passaram por uma escola, pois para eles Escola e Professores não têm a menor importancia, são apenas números para suas estatisticas.

Mas a frase não termina aí. “Somos midiatizados pelo mundo” e o “mundo” dá muitas voltas. Uma hora dessas o mundo pegará vocês “burocratas da educação”. Não pensem que vocês são eternos. Que dizer dos exemplos na história recente dos “ditadores” Hosni
Mubarak no Egito, Muamar Kadafi na Líbia, Bashar al-Assad da Síria e muitos outros que foram destituídos pela iniciativa popular. Quiçá nestas voltas que o mundo dá estes que não apoiam
a educação também sejam trocados, pois estamos não numa ditadura, mas num estado democrático de direito. portanto, vamos lutar sempre pelos nossos direitos constitucionais.

Fazer o quê? Essa é a nossa saga, “o tempo e vento” dirão como na saga do escritor Érico Veríssimo, como a nossa história será escrita. A vida têm altos e baixos. Este ano não dá pra comemorar, quem sabe no próximo?

Um grande abraço a todos meus colegas de profissão

Prof. Eduardo P. Gomes (professor público da Rede Estadual e Municipal de Belo Horizonte)