Cinema na Educação
João Luís de Almeida Machado Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em
Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro
"Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora
Intersubjetiva).
O Clube do Imperador
Em busca da Formação Plena
http://www.saudadeeadeus.com.
Não há entre os autênticos educadores um único que não tenha o
interesse genuíno de fazer com que sua aula extrapole os limites dos
conteúdos que estão sendo trabalhados e permita a seus estudantes uma
formação plena, integral. E quando falamos nisso, destacamos que essa
idéia envolve a busca não apenas do conhecimento do ponto de vista
acadêmico, mas também ético e filosófico.
Queremos transformar nossas crianças e jovens em pessoas que saibam o
quanto é importante valorizar a vida, estimular o progresso, perceber
o mundo em que vivem, amar o conhecimento, gostar de conviver com
outras pessoas (e com as diferenças), enfim, crescer em busca da
harmonia, do amor e da paz.
Há, sem dúvida, como nos diz o mestre Rubem Alves, aqueles que entram
em aula apenas para “dar aulas”. São competentes (ou não tão
competentes) “dadores” de aulas de história, matemática, ciências ou
português, entretanto não conseguem perceber que o papel dos
educadores extrapola conceitos e teorias, regras gramaticais e
descrições de paisagens, fatos históricos ou fórmulas matemáticas.
A educação carrega em si, de forma implícita a realização da plenitude
de nossos alunos através de seu contato conosco, os professores. Isso
não significa que somos exemplares e virtuosos. Somos sujeitos a
falhas e imperfeições como todas as outras pessoas. O que se espera é
que consigamos, através de nossa prática pedagógica, de nossa
proximidade com os estudantes, de nossa capacidade de dialogar e
tantas outras habilidades e competências que devemos ter, que sejamos
capazes de falar ao coração, atingir a alma, perpetuando palavras,
pensamentos e ações que estão além de meros conteúdos.
Muitos educadores sabem disso. São eles que estão sempre se dispondo a
escutar seus alunos tanto em aula e em relação aos tópicos e temas
trabalhados em suas disciplinas quanto fora de aula para ajudar a
dissipar as dúvidas que surgem na estrada da vida; são esses
professores que estudam sempre e constantemente buscam novas fórmulas
e metodologias que tornem suas aulas ainda mais motivadoras; são esses
profissionais que nunca parecem satisfeitos e que às vezes são
chamados de inconformados por sua atitude de perene procura de
respostas aos problemas do cotidiano da escola.
Se você está se percebendo nessas linhas e notando que suas atitudes
são condizentes com aquilo que está escrito, parabéns! Você deveria
receber prêmios (o maior de todos é o carinho e a consideração de
nossos alunos) e reconhecimento por sua postura e conduta
profissional. Sei que não é isso que você está querendo através de
suas realizações, afinal de contas o nosso espírito de educadores não
é tão afeito aos holofotes, a fama e a celebridade, o que realmente
vale é saber que passamos a fazer parte da história de vida de nossos
estudantes e que os auxiliamos a obter sucesso e alcançar a felicidade
profissional e pessoal.
O filme “O Clube do Imperador” nos coloca diante de um professor que
persegue esse nosso sonho de forma abnegada. Tenho certeza que só isso
já é suficiente para que você se interesse em saber mais e assista ao
filme... Boa diversão!
O Filme
William Hundert (Kevin Kline) é um conceituado professor de história
da Antiguidade Clássica (Grécia e Roma) verdadeiramente apaixonado por
seu trabalho. Além disso, Hundert é um dos baluartes da tradicional
escola onde dá suas aulas. Respeitado pelo diretor e pelos alunos,
todos os anos esse professor organiza uma competição cultural que se
tornou clássica no colégio, o “Clube do Imperador”.
Em sua nova turma de estudantes o professor Hundert começa desde o
princípio a estimular o gosto pelo estudo dos grandes acontecimentos
relacionados aos generais e imperadores romanos e aos filósofos e
artistas gregos. É capaz de gastar uma aula inteira se dedicando a
explicitar pensamentos e campanhas militares para os jovens
estudantes.
Seus novos estudantes são muito promissores o que o anima ainda mais a
realizar um trabalho de qualidade. Entre eles há, inclusive, o filho
de um dos vencedores de uma das edições passadas do “Clube do
Imperador”. Depois de alguns dias de aula transcorridos, sua aula é
interrompida para a chegada de um novo estudante, Sedgewick Bell
(Emile Hirsch), arrogante e prepotente filho de um senador.
Confrontado algumas vezes pelo garoto, Hundert resolve contar com o
apoio do pai do garoto para conseguir fazer com que ele se aplique
mais nos estudos e valorize a educação a que está tendo acesso. De seu
empenho surge a primeira grande oportunidade de valorizar Sedgewick e
dar-lhe o necessário estímulo para um maior interesse na escola ao ter
em suas mãos a chance de classificá-lo para as finais do “Clube do
Imperador”.
Será possível aos professores através de suas atitudes modificar o
futuro de seus alunos? Até que ponto o convívio diário com os
professores pode influenciar o caráter e as atitudes dos estudantes? O
individualismo e a busca da vitória a qualquer preço são ensinamentos
que devem continuar fazendo parte das lições trabalhadas na escola?
Até que ponto os professores devem continuar acreditando e investindo
na recuperação de seus alunos (seja na formação ética ou na
acadêmica)? Será que o idealismo muitas vezes não chega a cegar os
professores em seus julgamentos e procedimentos em relação a seus
estudantes?
Todas essas questões estão, de certa forma, presentes no filme “Clube
do Imperador”, isso já o qualifica a ser visto por educadores e seus
pupilos, pelos pais e por todas as pessoas interessadas em melhorar a
educação. Assistam!
Aos Professores
1- Jamais deixem de sonhar! Mais do que isso, invistam em seus sonhos,
façam com que eles se tornem realidade. Apliquem seu tempo, utilizem
seus conhecimentos, pesquisem quando necessário e permitam que todo o
seu esforço e experiência se transformem em projetos que revertam em
favor da educação, da escola onde trabalham, da comunidade a qual
servem e, principalmente de seus alunos.
2- Tendo como exemplo o filme “O Clube do Imperador”, por que não
realizar concursos culturais em sua escola. Podem ser criadas
competições em qualquer disciplina ou mesmo em todas, por séries ou
níveis de dificuldade, agregando notas ao desempenho dos alunos em
cada disciplina ou para premiar com medalhas e troféus os vencedores.
O mais importante é fazer com que os alunos se interessem e queiram
cada vez mais estudar.
3- Muitos professores me questionam nas palestras e workshops que
realizo a respeito da formação mais ampla e integral do aluno. Costumo
lhes dizer que os alunos se pautam muito em nossas atitudes e postura
diante do mundo. Uma das observações mais constantes de nossos
estudantes em relação a seus professores relaciona-se a coerência
entre discurso e prática. Não adianta, por exemplo, o professor
defender de forma veemente a democracia se suas atitudes são de
intolerância e incompreensão...
4- As escolas deveriam se preocupar em documentar a passagem de seus
estudantes pela escola através de fotografias como ocorre regularmente
nos Estados Unidos com os Yearbooks (livros do ano). Além disso, seria
muito interessante se a cada 5 ou 10 anos as escolas conseguissem
reunir os alunos que se formaram e seus professores para reuniões e
confraternizações em que se falasse sobre o que aconteceu com cada um
depois do término de seus compromissos escolares. Seria estimulante
para professores e alunos saber que seu convívio foi fundamental para
o futuro de ambos...
Ficha Técnica
O Clube do Imperador
(The Emperor’s Club)
País/Ano de produção: EUA, 2002
Duração/Gênero: 109 min., Drama
Direção de Michael Hoffman
Roteiro de Ethan Canin e Neil Tolkin
Elenco: Kevin Kline, Emily Hirsch, Embeth Davidtz, Rob Morrow, Edward H
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