Vinicius Seabra
“Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas
prossigo para alcançá-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo
Jesus. (...) prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial
de Deus em Cristo Jesus”.
Filipenses 3:12,14 (NVI)
gôndola qualquer no mercado da esquina que de tão acessível se torna vulgar e vazia. Percebe-se uma inquietude por querer ser alguém na vida ao ponto de se escravizar para obter a aprovação e aplausos de outros que bravejam atrás da mascará do sucesso. Contempla-se o suspiro apaixonado por uma história de amor que ilude os corações feridos a ter ações impulsivas sem levar em considerações as consequências de se confundir amor com prazer. Por tudo isto, seria farisaico se não assumíssemos nesta lauda que a sociedade está em uma luta desleal, vivendo num conflito sombrio, sonhando com a ilusão como que no “o fantástico mundo bob” e sendo encantando com o canto suave da sereia que tenta arrastar as pessoas para o fundo do mar.
O caótico cenário descrito no parágrafo anterior é intrínseco ao viver orgulho, egoísta e instável da sociedade pós-moderna. Isto é o que somos. Por esta razão é igualmente fingimento esperar que aqueles que labutam numa jornada cristã não padeçam destes mesmos assombros. Ser cristão não é construir outro mundo entre as quatro paredes da igreja e achar que se está imune a tais mazelas da nossa geração. Vivemos no mesmo contexto. Ter dúvidas, fazer questionamentos, ter incertezas, cometer vários erros, acreditar em utopias... enfim, somos humanos. Um grande passo rumo à maturidade cristã é quando reconhecemos quem somos em nossas fraquezas sem que haja a necessidade de fingimentos, máscaras ou encenações – mesmo que isto escandalize os abutres da fé que bravejam dos pedestais espirituosos engordurados de artificialidade igrejeira. A maturidade cristã não é um troféu dos que não mais cometem erros, maturidade cristã é o galardão daqueles que conseguem mais facilmente perceber seus próprios erros. Não é a ausência de fraquezas que importa, mas sim a pronta percepção destas fraquezas em nossos corações. Por isto, viver em santidade não é deixar de coexistir em conflito com os desejos carnais que parece perseguirmos por toda a vida (Gl. 5:17); Ser discípulo de Jesus não é viver longe dos desejos egocêntricos que insistem em massagear nossos corações a cada manhã (Mc 10:37); Congregar em uma igreja não é sinônimo de se tornar um vencer invicto que não mais desfruta dos altos e baixos da vida (Fp
4:12). Enfim, caminhar no Caminho (nomenclatura que designava os primeiros cristãos, cf. At. 9:2 e At. 24:14) não é passar a largo do caos do presente mundo, mas sim conseguir permanecer firmes mesmo sabendo quem realmente nós somos.
O grande trunfo da maturidade cristã é quando se entende, sem reservas, que a obra de Deus é feita não por causa de nós, mas sim apesar de nós. O grande presente de Deus a humanidade foi entregar o Seu Filho na cruz, evidenciando nossa incapacidade de saciar a ira de Deus por nós mesmos, por causa do que nós somos (Rm 3:23- 24). Aqui faz-se necessário uma consideração com fins a não desvirtuarem o real propósito deste artigo – não estamos defendo o pecado com o qual temos que lutar cotidianamente, aqui estamos discursando sobre a natureza pecaminosa, indivisível a nossa existência – é preciso diferenciar tais conceitos. Finalizando, espero que as palavras aqui descritas sirvam para destronizar a tirania da perfeição em nossas igrejas brasileiras e fomentar uma perspectiva de irmandade. Que vislumbramos a operosidade da graça do Senhor do Caminho.
Que Deus nos ajude!
* Vinicius Seabra é professor das áreas de teologia e administração; diretor do Seminário Evangélico de Teologia da América Latina (www.setal.org.br); presidente da Missão Tocando as Nações (www.mtn.org.br); e, pastor da Comunidade da Fé – Igreja Cristã (www.cofe.org.br) em Goiânia, Goiás, Brasil.
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