Artigo: A Marcha para Jesus e a marcha de Jesus
Pastor Luis Carvalho
No último final de semana tivemos um evento na maior cidade do Brasil, que repercutiu internacionalmente, e foi recebido por muitos líderes evangélicos como mais um passo rumo a “evangelicalização” do país, estou me referindo a Marcha para Jesus.
Não sei qual é o real sentido, ou mesmo propósito de tal marcha. Confesso que nunca sei se é apenas uma tentativa de mostrar o crescimento de um segmento religioso, ou de uma proposta de transformação da sociedade. Alguém já se perguntou qual o objetivodessa marcha? Sua bandeira? Seu propósito? Enfim, prefiro não dar muita ênfase nesse tema e tratar da Marcha de Jesus.
No evangelho de Lucas, capítulo 9, versículos 51-56. O evangelista fala de uma marcha profética de Jesus em direção a Jerusalém, com o propósito de proclamar o Reino de Deus e incluir as pessoas na missão.
E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém. E mandou mensageiros adiante de si; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada, Mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém.E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez? Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia.(ACRV)
Essa passagem de Lucas pode ser entendida por nós como uma espécie de moldura que compreende os fatos mais importantes da vida de Jesus. Talvez, os dois momentos cruciais da vida do nazareno sejam exatamente suas duas idas a Jerusalém. O evangelista registra isso com o intuito de mostrar que essas incursões marcaram fortemente a vida e ministério do mestre da Galileia.
E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém. E mandou mensageiros adiante de si; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada, Mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém.E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez? Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia.(ACRV)
Essa passagem de Lucas pode ser entendida por nós como uma espécie de moldura que compreende os fatos mais importantes da vida de Jesus. Talvez, os dois momentos cruciais da vida do nazareno sejam exatamente suas duas idas a Jerusalém. O evangelista registra isso com o intuito de mostrar que essas incursões marcaram fortemente a vida e ministério do mestre da Galileia.
A decisão de “marchar para Jerusalém”, denota que a mentalidade messiânica de Jesus havia amadurecido. Nesse momento, ele já tinha consciência da inexorabilidade de seu destino, por isso inclui em seu itinerário a passagem pela terra dos samaritanos. Tal fato reforça o destaque dado às minorias e a derradeira tentativa de proclamação da mensagem inclusiva do Reino de Deus.
Sem entrar em detalhes exegéticos, pode-se destacar, de início, o tratamento de Jesus em relação aos samaritanos e a reação dos irmãos diante da hostilidade do grupo. Esse episódio liga-se aos versículos que precedem a passagem lida. Neles também encontramos a atitude excludente dos discípulos.
Toda a temática do evangelho de Lucas gira em torno da inclusão. Jesus aparece em diversos momentos ensinando como preceder diante dos grupos diferentes, entretanto, mais uma vez, seus companheiros demonstram a displicência ao colocarem em prática tais ensinos.
Às vezes me indago sobre qual o real sentido do evangelho e as práticas cotidianas de nossas igrejas. Tenho a impressão que essa temática humanizadora da inclusão não está em pauta. Pelo menos não com o sentido que Jesus colocou. Observo que estamos muito mais interessados em mostrar a força e potência que o grupo intitulado “evangélico” adquiriu ao longo dos anos, do que trabalhar de forma harmoniosa e dialogal com as minorias e os grupos diferentes. Não nos interessa mais a humanização, a compassividade; a compreensão, de fato, o que se observa é o descompasso entre a mensagem do evangelho do Reino e nossos discursos.
Será que essa intolerância e guerra religiosa em que estamos inseridos foram ensinadas por Jesus? Qual seria a reação dele se vivesse nos nossos dias e se deparasse com esse contexto de exclusão e exclusividade evangélica?
Para trilharmos o caminho de Jesus, necessitamos entender que sua proposta diz respeito à humanização, compreensão, a alteridade, e não o caminho da arrogância e prepotência, comuns nos nossos púlpitos. O caminho de Jesus revela a marcha do martírio, da persistência e da inclusão.
A marcha profética em direção a Jerusalém teve como um dos objetivos denunciar o preconceito e altivez religiosa em que os judeus do século I estavam inseridos. Como seguidores dos preceitos de Jesus, devemos também nos esforçar para incluir em nossa caminhada os grupos desprestigiados, minorias e toda sorte de pessoas que estão em situação desfavorável.
O segundo aspecto que destaco nessa passagem é a tendência reacionária dos dois irmãos. Diante da não recepção dos samaritanos em relação ao grupo de Jesus, a dupla sugere, baseada numa leitura extremista das escrituras, a aniquilação hostilizadores.
Cabe salientar, até mesmo a título de esclarecimento, que essa leitura literal e extremista não era privilégio dos irmãos filhos do trovão. Outros elementos também se utilizavam desse aparato para legitimar suas posições. Basta atentarmos para o versículo anterior a essa passagem para observarmos a censura aos exorcistas que expeliam demônios em nome de Jesus.
No judaísmo havia diversas tendências que faziam essa leitura e esperavam uma oportunidade para expulsar os dominadores romanos e instaurar um governo teocrático, sob o argumento de cumprimento da vontade de Deus.
Nesses dias tenho refletido sobre uma tendência que tem ganhado espaços cada vez mais significativos. Trata-se do que denomino de totalitarismo evangélico, isto é, a tendência de aniquilação de toda a pessoa ou grupo que não se enquadre no “pacote” evangélico que vigora no Brasil.
Esse grupo tende a repetir as mesmas práticas dos discípulos, quando, por exemplo, entende que todos os que não são do seu grupo devem ser repreendidos ou exterminados. A frase: “vimos um homem que em teu nome expulsava demônios; e lho proibimos porque não segue conosco”, pode ganhar os mais diversos contornos, que variam desde o isolamento de grupos e pessoas que não aderem a determinada visão, até sua liquidação ou extermínio semelhante à proposta dos irmãos Thiago e João.
A resposta de Jesus a essa tendência é enfática: Não sabeis de que espírito sois! Não saber... erro corrente no meio evangélico brasileiro. Não saber a história; a tradição; o amor; a misericórdia. Não saber... pior que não saber é oprimir a machucar sentimentos de pessoas que não se enquandram a determinados modelos. Um dos segmentos que mais crescem no Brasil é o dos evangélicos sem igreja, pessoas que não conheceram o amor, a graça o perdão e a misericórdia por parte de lideranças e igrejas.
Vemos que nessa passagem Jesus leva até as ultimas consequências a seriedade de sua missão, não importando o quanto se é hostilizado, rejeitado e desprezado. Até o último momento se deve insistir em fazer o bem, agir compassivamente e com amor. Procedendo assim, não correremos o risco de ouvir que não sabemos de que espírito somos.
Por fim, gostaria de destacar as palavras finais de Jesus. Não vim destruir, mas vim para salvar. O termo salvar pode adquirir os mais diferentes sentidos, em algumas ocasiões ele é utilizado com o sentido de restaurar, em outros liga-se as questões de saúde, há casos que o sentido atribuído a tal verbo diz respeito à saúde emocional. O importante é que em nenhum deles o sentido é destrutivo.
A salvação citada no texto refere-se basicamente à restauração da dignidade de grupos, como, por exemplo, os samaritanos que há séculos eram tratados como impuros e indignos por parte da religião judaica – que, diga-se de passagem, utilizava-se de sua hegemonia para oprimir quem não pertencia a seu grupo.
É nesse sentido que gostaria de trabalhar esse vocábulo: o tratamento das feridas provocadas pelos sistemas religiosos opressores e desumanos, repreendidos diversas vezes por Jesus. Em especial, gostaria de me dirigir às pessoas que sentem machucadas desprezadas e fora dos sistemas; vitimadas por esse totalitarismo. A palavra de Jesus é: vim para restaurar, salvar.
Em muitos episódios dos evangelhos, ao curar as pessoas, Jesus proferia a seguinte frase: a tua fé te salvou. Não é estranho ouvir que uma pessoa recém curada foi salva? A palavra salvar nos textos do Novo Testamento adquiri os mais diferentes sentidos, dentre os quais restaurar, ou seja, dar saúde, é um.
Portanto podemos afirmar sem dúvidas que Jesus ao propor a salvação não se refere apenas ao céu ou uma vida para além desse mundo. Ele também o faz com pensando nas coisas desse mundo, do aqui e agora que envolve a vida das pessoas. Sendo assim, gostaria de dizer que a proposta do evangelho é de salvação, restauração, cura das feridas.
Pastor Luis Carvalho da Igreja Metodista em Goioerê-PR 6ª Região Eclesiástica
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